sexta-feira, 4 de abril de 2014

FIGURAS DE LINGUAGEM

TEXTO PARA AS QUESTÕES  1 A 8:                 

Um dia de paz

Teve uma “semana horrível, de um mês horrível, de um ano horrível, de uma vida horrível” – como ele mesmo confessava aos amigos ou aos alunos do colégio Antares, em Picos, aproximadamente 310km de Teresina. Era professor de Língua Portuguesa, entretanto mais parecia um líder sindicalista, pois a tudo associava questões políticas, mazelas sociais – como desigualdade entre ricos e pobres –, nepotismo, corrupção etc.
Costumava dizer: “pobre é tão marginalizado que, sequer, vive; mas ‘veve’. Isso mesmo, ‘veve’ em bairro sem saneamento básico, ‘veve’ sem plano de saúde, ‘veve’ sem salário digno, ‘veve’ sem educação de qualidade, ‘veve’ sem segurança, ‘veve’ conformado com a ideia de ser pobre e com o fato de que político bom é o que ‘róba’, mas faz”.
Era avesso a arbitrariedades e pregava a insurgência contra qualquer manifestação tirânica. Outro dia foi multado porque não obedeceu ao comando de parar emitido por um guarda. Em sua defesa alegou que até os imperativos, como o “pare” da questão, ficariam mais gentis com um “por  favor”. Também  foi demitido de uma escola particular por recusar-se a usar a farda exigida pelo diretor. Argumentou que não era soldado para usar uniforme e que não ajudaria a engrossar as fileiras de zumbis. E, por falar em fila, nada fazia que tivesse que passar por uma. Reclamava que era ultrajante ter de sujeitar-se a filas para receber atendimento médico, para pagar uma conta, para pegar um ônibus e, pior ainda, para comer.
         Orgulhava-se de ter participado, quando adolescente, de movimentos estudantis e enchia a boca ao criticar posturas demagógicas e antidemocráticas de políticos brasileiros. Certamente se tornava alvo de retaliação , como remoções “por interesse da Administração” e suspensão com perda de vencimentos após “devido processo legal e contraditório”. Perguntado-lhe se valia a pena tudo o que fazia, ele respondia, com brilho no olhar, que era o mínimo que podia fazer para tornar o mundo menos ruim para sua filha de seis anos.
Incomodavam-lhe a desorganização no trânsito, o mau atendimento no comércio, a covardia dos amigos, a hipocrisia das autoridades, a traição das mulheres, a falta de educação das crianças. Mas, naquele dia, em que encerraria mais uma semana de muito trabalho, parecia que bons ventos sopravam. Não se incomodou com o tráfego naquela manhã em que ia ao trabalho. Em sala de aula, sentiu que a turma estava mais atenta à explicação do conteúdo; parece até que chegou a ouvir um “posso ir ao banheiro?”, em vez de “posso ir no banheiro?” ou, simplesmente, “rô no banhero”. Saindo da escola, recebeu, como forma de agradecimento, abraço de um aluno e elogios da diretora. Indo buscar sua filha em outro colégio, impressionou-se com a visão paradisíaca dos carros adequadamente estacionados, sem barulho de buzinas, e com os pais transportando pacientemente seus filhos. Sua filha beijou-lhe o rosto e lhe entregou um papel que só depois deveria ser lido.
Em casa, é recebido pela esposa com um sorriso e seu prato preferido à mesa. No centro da cidade, para resolver umas coisas, alegraram-lhe o “deseja algo, senhor?” e o “volte sempre” da atendente da loja. Na banca de revista, contemplou, por uns instantes, dois senhores debatendo amigavelmente política. Lembrou-se do que lhe entregara a filha, mas, ao pegá-lo no bolso, o celular toca. Era seu irmão, com quem não falava havia vários anos, convidando-o para ser padrinho de Batismo de uma sobrinha que ele ainda não conhecera.
A sensação de paz tomava-lhe a alma. Momento em que veio à lembrança o bilhetinho da filha. Deixara-o cair quando sacou do bolso o celular. Sai, em desespero, à procura do papel. Felizmente o avista no meio da rua: era um dia tão calmo que nem vento varria os mais leves objetos. A magia daquele dia é, então, restabelecida. Abaixou-se para pegar o bilhete e, ao erguer a cabeça, uma ambulância que tentava desviar-se de um pedestre desatento o atinge.
         Quem me contou essa cena disse-me que não notou desespero em sua atitude, que ele cerrou os punhos, fitou o automóvel e aceitou, como a terra seca recebe a chuva, o impacto do carro. No hospital, poucos amigos e alguns familiares presenciaram a dificuldade dos enfermeiros para abrir uma de suas mãos, na qual estava o bilhete dado pela filha, com letras tímidas e dizendo assim: “Ao melhor pai do mundo. Eu te amo!”.
(Autor: Flávio de Ostanila. Disponível em: flaviojosepereira.blogspot.com.br)



1. Pode-se inferir do texto:
a) É uma ficção, uma vez que não há menção a nenhuma personagem específica.
b) A personagem é um professor que será candidato a deputado nas próximas eleições.
c) Os fatos abordados remete o leitor a uma reflexão sobre prioridades na vida e questões morais.
d) A personagem havia planejado o suicídio, pois apenas dessa forma obteria a paz tão desejada.
e) Nada importa no texto, apenas o bilhete dado ao pai pela filha.

2. Acerca do título do texto pode-se deduzir, EXCETO:
a) Resume a sensação de bem-estar que acometeu a personagem naquele dia.
b) A morte simboliza a paz última.
c) Fatos agradáveis à personagem aconteceram naquele dia.
d) Aparentemente a personagem estava predisposta a  encarar aquele dia com mais leveza, ou seja, com  menos estresse.
e) Uma soma de coisas fizeram o dia tranquilo, como o prato predileto, a reorganização do trânsito, a gratidão dos alunos, o reconhecimento da direção do colégio e o conteúdo do bilhete dado pela filha.

3. “Teve uma ‘semana horrível, de um mês horrível, de um ano horrível, de uma vida horrível’ “, no primeiro parágrafo, apresenta quais figuras de linguagem?
a) polissíndeto e prosopopeia
b) gradação e hipérbole
c) polissíndeto e gradação
d) gradação e ironia
e) anáfora e assíndeto

4. Que figura de linguagem é flagrante no segundo parágrafo?
a) ironia
b) hipérbole
c) metáfora
d) metonímia
e) antítese

5. “... não ajudaria a engrossar as fileiras de zumbis.” , no terceiro parágrafo, o termo sublinhado corresponde à seguinte figura de linguagem:
a) eufemismo
b) prosopopeia
c) metáfora
d) antítese
e) onomatopeia

6. “... ser padrinho de Batismo de uma sobrinha que ele ainda não conhecera.”,  penúltimo parágrafo, apresenta uma oposição que configura um (a):
a) eufemismo
b) assonância
c) paronomásia
d) antítese
e) gradação

7. No penúltimo parágrafo, “...nem o vento varria os mais leves objetos.” , o sons de /v/, causando musicalidade ao fragmento, é possível graças à (ao):
a) pleonasmo
b) assonância
c) onomatopeia
d) elipse
e) aliteração

8. “... aceitou, como a terra seca recebe a chuva, o impacto do carro.”, último parágrafo, o efeito estilístico é possível devido ao seguinte recurso:
a) retificação
b) comparação
c) oposição
d) extrapolação
e) restrição

9. (VUNESP) No trecho: "...dão um jeito de mudar o mínimo para continuar mandando o máximo", a figura de linguagem presente é chamada:
a) metáfora
b) hipérbole
c) hipérbato
d) anáfora
e) antítese

10. (PUC - SP) Nos trechos: "O pavão é um arco-íris de plumas" e  "...de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira..." enquanto procedimento estilístico, temos, respectivamente: 
a) metáfora e polissíndeto;
b) comparação e repetição;
c) metonímia e aliteração;
d) hipérbole e metáfora;
e) anáfora e metáfora.

11. (PUC - SP) Nos trechos: "...nem um dos autores nacionais ou nacionalizados de oitenta pra lá faltava nas estantes do major" e "...o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja" encontramos, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem:
a) prosopopeia e hipérbole;
b) hipérbole e metonímia;
c) perífrase e hipérbole;
d) metonímia e eufemismo;
e) metonímia e prosopopeia.

12. (ITA) Em qual das opções há erro de identificação das figuras?
a) "Um dia hei de ir embora / Adormecer no derradeiro sono." (eufemismo)
b) "A neblina, roçando o chão, cicia, em prece. (prosopopeia)
c) Já não são tão frequentes os passeios noturnos na violenta Rio de Janeiro. (silepse de número)
d) "E fria, fluente, frouxa claridade / Flutua..." (aliteração)
e) "Oh, sonora audição colorida do aroma." (sinestesia)

13. (UM - SP) Indique a alternativa em que haja uma concordância realizada por silepse:
a) Os irmãos de Teresa, os pais de Júlio e nós, habitantes desta pacata região, precisaremos de muita força para sobreviver.
b) Poderão existir inúmeros problemas conosco devido às opiniões dadas neste relatório.
c) Os adultos somos bem mais prudentes que os jovens no combate às dificuldades.
d) Dar-lhe-emos novas oportunidades de trabalho para que você obtenha resultados mais satisfatórios.
e) Haveremos de conseguir os medicamentos necessários para a cura desse vírus insubordinável a qualquer tratamento.

14. (FEI) Assinalar a alternativa correta, correspondente à figuras de linguagem, presentes nos fragmentos abaixo:
I.   "Não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puro viste." 
II.  "A moral legisla para o homem; o direito, para o cidadão."
III. "A maioria concordava nos pontos essenciais; nos pormenores, porém, discordavam."
IV. "Isaac a vinte passos, divisando o vulto de um, para, ergues a mão em viseira, firma os olhos."

a) anacoluto, hipérbato, hipálage, pleonasmo;
b) hipérbato, zeugma, silepse, assíndeto;
c) anáfora, polissíndeto, elipse, hipérbato;
d) pleonasmo, anacoluto, catacrese, eufemismo;
e) hipálage, silepse, polissíndeto, zeugma.

15. (FEBA - SP) Assinale a alternativa em que ocorre aliteração:
a) "Água de fonte .......... água de oceano ............. água de pranto. (Manuel Bandeira)
b) "A gente almoça e se coça e se roça e só se vicia." (Chico Buarque)
c) "Ouço o tique-taque do relógio: apresso-me então." (Clarice Lispector)
d) "Minha vida é uma colcha de retalhos, todos da mesma cor." (Mário Quintana)
                          
16. (FATEC) "Seus óculos eram imperiosos." Assinale a alternativa em que aparece a mesma figura de linguagem que há na frase acima:
a) "As cidades vinham surgindo na ponte dos nomes."
b) "Nasci na sala do 3° ano."
c) "O bonde passa cheio de pernas."
d) "O meu amor, paralisado, pula."
e) "Não serei o poeta de um mundo caduco."

17. (U. Taubaté) No sintagma: “Uma palavra branca e fria”, encontramos a figura denominada:
a) sinestesia
b) eufemismo
c) onomatopeia
d) antonomásia
e) catacrese

18. (Mack) Nos versos abaixo, uma figura se ergue graças ao conflito de duas visões antagônicas:

“Saio do hotel com quatro olhos,
- Dois do presente,
- Dois do passado.”

Esta figura de linguagem recebe o nome de:
a) metonímia
b) catacrese
c) hipérbole
d) antítese
e) hipérbato

19. (FUVEST) A figura de linguagem empregada nos versos em destaque é:

“Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável)
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!”

a) clímax
b) eufemismo
c) sínquise
d) catacrese
e) pleonasmo.

20. (UERJ 2004) A construção poética do discurso baseia-se frequentemente na utilização de figuras de linguagem,  como a metonímia. O poeta recorreu a esta figura em:
a) “Ah, os rostos sentados”
b) “Os retratos em cor, na parede,”
c) “que exerceram (…) o manso ofício”
d) “de fazer esperar com esperança.”

21. (2011 Sargento) A alternativa em que podemos encontrar um exemplo de catacrese (figura de linguagem) é:
a) Aquela menina é um doce de pessoa.
b) Estou lendo Fernando Pessoa ultimamente.
c) Coloque dois dentes de alho na comida.
d) Estava triste e chorou rios de lágrimas.
e) Ela faz tortas como ninguém.

22. (VUNESP - 2012 PM-SP) Em – Mas há as ficções benignas, como as que saíram dos pincéis de um Goya ou da pena de um Cervantes... –, a figura de linguagem empregada no termo destacado é
a) metonímia.
b) ambiguidade.
c) antítese.
d) anáfora.
e) hipérbole.

23. (FUNCAB - Médico Legista - ES) As figuras de linguagem são usadas como recursos estilísticos para dar maior valor expressivo à linguagem. No seguinte trecho “Tu és a chuva e eu sou a terra [...]” predomina a figura, denominada:
a) onomatopeia.
b) hipérbole.
c) metáfora.
d) catacrese.
e) sinestesia.

24. (VUNESP) Assinale a alternativa em que está caracterizada a figura de sintaxe denominada pleonasmo.
a) Esperamos, sinceramente, você compreenda nossos motivos.
b) Dizem que os brasileiros autênticos somos loucos por futebol.
c) Ao povo, nada lhe dão que não seja seguido de novos impostos.
d) Ele que era forte e corajoso, ei-lo fraco e covarde.
e) Informaram que Sua Santidade continua adoentado.

25. (2011 PM - SC) Considerando a presença de figuras de linguagem nas frases, assinale a alternativa INCORRETA.
a) “Meu pensamento é um rio subterrâneo”. Metáfora
b) Sentia na boca um sabor de vida e morte. Prosopopeia
c) Gostava de ler Machado de Assis. Metonímia
d) “Tristeza não tem fim, felicidade sim”. Antítese

26. (ENEM-2004) Cidade grande

Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Carlos Drummond de Andrade)

Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a
a) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.
b) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.
c) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.
d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo. 


e) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.

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