quinta-feira, 22 de julho de 2010
Pi-a-uí ou Pi-au-í?
Observe que a semivogal "u" está entre duas vogais: "a", inexoravelmente vogal, e "i", tônico e acentuado graficamente. Em sala de aula, costumo brincar que a semivogal adora puxar o saco da vogal. Nesse caso, qual das vogais será bajulada? As duas: pi-au-uí. Ao prolongamento da semivogal na pronúncia dá-se o nome de "glide", leia-se "glaide". Como acontece com goi-ia-ba, mai-io, ji-boi-ia etc. É certo que, na separação de sílabas, a semivogal fica com a vogal que a antecede (é o chamado "com quem chegar primeiro"), a exemplo de pi-au-í, goi-a-ba, mai-o e ji-boi-a.
sábado, 17 de julho de 2010
O INCOMPREENDIDO
O meu perfume agrada aos bons apreciadores,
E meus espinhos ferem os prepotentes, intrusos;
Mas não sou flor, mas não sou rosa.
O teu mau paladar não me saboreia,
O meu corpo tu não digeres;
Mas não sou fruta e nem sou carne.
A minha claridade ofusca a tua visão míope,
E o meu grito estronda nos teus ouvidos surdos;
Mas não sou luz, tampouco som.
E, se voo, minhas asas batem no teu queixo erguido;
E, se nado, minha calda joga água no teu sapato novo;
Mas não sou ave, muito menos peixe.
Sou a flor da primavera perdida no outono,
Sou a baleia que amamenta seu filhote nas areias do Saara,
Sou da água o pó; da ferida, a dor;
Sou do injustiçado o ódio; da mãe, o amor.
E meus espinhos ferem os prepotentes, intrusos;
Mas não sou flor, mas não sou rosa.
O teu mau paladar não me saboreia,
O meu corpo tu não digeres;
Mas não sou fruta e nem sou carne.
A minha claridade ofusca a tua visão míope,
E o meu grito estronda nos teus ouvidos surdos;
Mas não sou luz, tampouco som.
E, se voo, minhas asas batem no teu queixo erguido;
E, se nado, minha calda joga água no teu sapato novo;
Mas não sou ave, muito menos peixe.
Sou a flor da primavera perdida no outono,
Sou a baleia que amamenta seu filhote nas areias do Saara,
Sou da água o pó; da ferida, a dor;
Sou do injustiçado o ódio; da mãe, o amor.
medrO e ossergorP
O melhor professor é aquele que aprova todos os alunos e preenche impecavelmente os diários. O que leciona, mesmo que de forma sublime, encantadora e voltada ao processo ensino-aprendizagem, é denominado problemático .
O bom político é quem quebra meu galho; não importa a fome dos outros. O policial exemplo é o que convive com os criminosos, até bebe cervejinha e divide intimidades com eles. Minha admirável vizinha é Weslla, pois me conta importantes fuxicos: que Keyth só come arroz com ovo e que a luz de Flávio fora cortada por falta de pagamento. E há uns amigos que adoro, porque estão sempre na farra comigo e me elogiam. Se falam mal de mim eu não fico sabendo. Já a namorada ideal é a garota que me carrega a todas as festas, que se embriaga e se droga comigo, que não se preocupa com gravidez nem com ressaca, que adora meu carro e os presente, que arrisca trabalho, e concursos públicos, e família por uma noite de sexo, e que, sobretudo, é bonita e se veste bem.
A formação moral do indivíduo acontece basicamente no seio familiar. Eu e meus irmãos nos divertíamos pegando manga e umbu em roças alheias; faltávamos às aulas de D. Irene para nadarmos no barreiro de Seu Neco e gozávamos da cara de Pe. Ermínio, por causa do seu jeito sereno e delicado – parecia o próprio Cristo falando. Minha mãe fumava em casa sem parar, mas não permitia que os filhos o fizessem também. Meu pai era uma figura. Não se preocupava com questões sociais nem políticas e nunca me enchia o saco pedindo para eu ser médico, tampouco me pressionava para que eu procurasse trabalho. Bons tempos aqueles!
Guarda de trânsito competente não multa; governo justo não tributa; marido fiel não expõe a amante; esposa leal não deixa o marido quando sabe da amante. Pais nunca punem: presenteiam; universidade não ensinam para a vida: empurram pra vida; confissões não absolvem pecados: limpam a ficha para se pecar mais ainda; ladrões não roubam: ensinam o cidadão a fechar a porta e a segurar mais forte o celular.
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante” – entendeu?! Às vezes até compreendemos as inversões: o péssimo é ter que conviver com elas.
O bom político é quem quebra meu galho; não importa a fome dos outros. O policial exemplo é o que convive com os criminosos, até bebe cervejinha e divide intimidades com eles. Minha admirável vizinha é Weslla, pois me conta importantes fuxicos: que Keyth só come arroz com ovo e que a luz de Flávio fora cortada por falta de pagamento. E há uns amigos que adoro, porque estão sempre na farra comigo e me elogiam. Se falam mal de mim eu não fico sabendo. Já a namorada ideal é a garota que me carrega a todas as festas, que se embriaga e se droga comigo, que não se preocupa com gravidez nem com ressaca, que adora meu carro e os presente, que arrisca trabalho, e concursos públicos, e família por uma noite de sexo, e que, sobretudo, é bonita e se veste bem.
A formação moral do indivíduo acontece basicamente no seio familiar. Eu e meus irmãos nos divertíamos pegando manga e umbu em roças alheias; faltávamos às aulas de D. Irene para nadarmos no barreiro de Seu Neco e gozávamos da cara de Pe. Ermínio, por causa do seu jeito sereno e delicado – parecia o próprio Cristo falando. Minha mãe fumava em casa sem parar, mas não permitia que os filhos o fizessem também. Meu pai era uma figura. Não se preocupava com questões sociais nem políticas e nunca me enchia o saco pedindo para eu ser médico, tampouco me pressionava para que eu procurasse trabalho. Bons tempos aqueles!
Guarda de trânsito competente não multa; governo justo não tributa; marido fiel não expõe a amante; esposa leal não deixa o marido quando sabe da amante. Pais nunca punem: presenteiam; universidade não ensinam para a vida: empurram pra vida; confissões não absolvem pecados: limpam a ficha para se pecar mais ainda; ladrões não roubam: ensinam o cidadão a fechar a porta e a segurar mais forte o celular.
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante” – entendeu?! Às vezes até compreendemos as inversões: o péssimo é ter que conviver com elas.
Enquanto leciona o professor...
- Que aula mais chata! – cochichou uma colega à outra, lá no canto esquerdo da sala.
- Não aguento essa matéria. Sou mais História – confidencia uma moça de minissaia a um rapaz, no centro do recinto. “E eu prefiro você, gostosa!” (pensa ele).
Noutra parte da sala, as donas da verdade “viajam”:
- É gay esse professor – a primeira dá o veredito.
- Não, mulher! cê acha?!
- Por falar em gay, sabia que Wesla deixou Wosh porque o pegou com outro? – toma a conversa “ad infinitum” a última.
PSSSSSSIIIIU!
- Ei! (pescoço noventa graus à esquerda, cotovelo no braço da cartei do amigo) tou malhando na Atlética.
- Maaassa, ó!
CELULAR TOCA
- Não posso falar agora (e falando!).
- Tou lhe esperando aqui na pracinha – do outro lado da linha.
- Peraí, que essa droga de aula não acab a nunca (e falando!).
TOC TOC
- Wyleish estuda aqui?
Para-se a aula. Todos se viram para um e outro lado. Levanta-se uma menina feia, empurra a porta (mas é para dentro que se deve abri-la), puxa a porta, que esbarra em seu pé. A turma ri, a feia sai.
PSSSSSSSSSIIIIIIU!
- Armaria! (ela quis dizer ave-maria) não gostei do show da banda bobagem-com-sacanagem-e-nada-de-futuro.
- Pois pra mim foi tudo de bom! Fiquei com Wessllow do segundo ano.
- Oxe! e a namorada dele?!
- E foi por isso mesmo que o arrochei.
Wislley cochila no fim da sala. Wenddley cola um cartaz em suas costas: “MI CUSPÃU”. Wellen lê a revista essencialíssima aos vestibulandos, O fuxico.
- Fuuuum! peidaram!
- Tá morto!
- No dia em que eu soltar um desses, podem me enterrar.
Esse diálogo de fenomenal importância à raça humana leva um bom tempo.
- Não entendo nada que esse cara fala – é sobre o professor.
- Eu acho que ele não sabe coisa alguma.
- Doidinho mais paia!
- Olha só a tela dele!
- É, velho! mas ele tá pegando uma doidinha do terceiro ano.
- Também! o cara é professor! conhece meio mundo de gata.
- Só espero que ela não dê em cima da minha!
PSSSSSSSSSSSSIIIIIIIIU!
- Que fome eu tou!
- Vamos na cantina!
As mortas de fome arrastam seus assentos, caminham até a porta, olham para o professor e o esperam falar algo, abrem a porta e saem. A turma assiste à cena em câmera lenta.
ENTEDERAM? (um silêncio abrupto)
A feia retorna. A campainha toca.
- Não aguento essa matéria. Sou mais História – confidencia uma moça de minissaia a um rapaz, no centro do recinto. “E eu prefiro você, gostosa!” (pensa ele).
Noutra parte da sala, as donas da verdade “viajam”:
- É gay esse professor – a primeira dá o veredito.
- Não, mulher! cê acha?!
- Por falar em gay, sabia que Wesla deixou Wosh porque o pegou com outro? – toma a conversa “ad infinitum” a última.
PSSSSSSIIIIU!
- Ei! (pescoço noventa graus à esquerda, cotovelo no braço da cartei do amigo) tou malhando na Atlética.
- Maaassa, ó!
CELULAR TOCA
- Não posso falar agora (e falando!).
- Tou lhe esperando aqui na pracinha – do outro lado da linha.
- Peraí, que essa droga de aula não acab a nunca (e falando!).
TOC TOC
- Wyleish estuda aqui?
Para-se a aula. Todos se viram para um e outro lado. Levanta-se uma menina feia, empurra a porta (mas é para dentro que se deve abri-la), puxa a porta, que esbarra em seu pé. A turma ri, a feia sai.
PSSSSSSSSSIIIIIIU!
- Armaria! (ela quis dizer ave-maria) não gostei do show da banda bobagem-com-sacanagem-e-nada-de-futuro.
- Pois pra mim foi tudo de bom! Fiquei com Wessllow do segundo ano.
- Oxe! e a namorada dele?!
- E foi por isso mesmo que o arrochei.
Wislley cochila no fim da sala. Wenddley cola um cartaz em suas costas: “MI CUSPÃU”. Wellen lê a revista essencialíssima aos vestibulandos, O fuxico.
- Fuuuum! peidaram!
- Tá morto!
- No dia em que eu soltar um desses, podem me enterrar.
Esse diálogo de fenomenal importância à raça humana leva um bom tempo.
- Não entendo nada que esse cara fala – é sobre o professor.
- Eu acho que ele não sabe coisa alguma.
- Doidinho mais paia!
- Olha só a tela dele!
- É, velho! mas ele tá pegando uma doidinha do terceiro ano.
- Também! o cara é professor! conhece meio mundo de gata.
- Só espero que ela não dê em cima da minha!
PSSSSSSSSSSSSIIIIIIIIU!
- Que fome eu tou!
- Vamos na cantina!
As mortas de fome arrastam seus assentos, caminham até a porta, olham para o professor e o esperam falar algo, abrem a porta e saem. A turma assiste à cena em câmera lenta.
ENTEDERAM? (um silêncio abrupto)
A feia retorna. A campainha toca.
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