sexta-feira, 11 de maio de 2012

O dia em que Gevardo não devia ter saído de casa

Um fio de cabelo loiro foi o motivo para sua mulher, morena, arremessar-lhe uma panela com água quente logo cedo. Felizmente ela errou o alvo. Depois de acalmar a esposa, Gevardo vestiu-se e foi à garagem buscar sua motocicleta. Pneu vazio. Teve que empurrá-la, uns setecentos metros, a uma borracharia. Probleminha resolvido. Destino: colégio. Atrasado. Alunos bagunçando, diretora reclamando, colegas o difamando. Fim de aula. Celular toca: “Quero dinheiro pro gás”. Vai ao banco. Fila enorme. Duas horas de espera. O cara da frente dá maçada, atrapalha-se, pede-lhe ajuda. Cartão emperra no caixa. Duas horas se passam. “E o gás, Gevardo?”. Saca o dinheiro, compra o botijão de gás e pede para o entregador leva-lo à sua casa. Esqueceu o cartão no banco. Retorna. “Todo o mundo no chão! é um assalto!”. Celular toca. Já mandei o gás – diz ele, baixinho. “Tá falando com quem, p...?”. PORRADA! PORRADA! “Sujou! Polícia!”. Delegacia. Perguntas e mais perguntas, e mais umas duas horas. “E o gás, imprestável?”. Está sangrando. No hospital, outras horas. “Tu tá onde, irresponsável?”. Levou só oito pontos no ferimento. De volta para casa, moto sem gasolina. Sem dinheiro, longe do posto, um guarda o multa: deixara a habilitação cair quando estava no banco. Empurra o veículo por três quilômetros. Já são dez horas da noite. “Infeliz, e o gás?”. Seu frentista – humilha-se, em vão –, põe cinquenta centavos de gasolina! Celular toca. Deixe-me em paz e vá pro inferno! – esbraveja o azarado homem. Era o diretor do colégio onde Gevardo lecionava, a fim de convidá-lo para uma reunião. Demitido. Avista o motoqueiro com o gás. Entra na frente, assusta o piloto, e este cai. O bujão sai rolando no meio do asfalto. Um carro tenta desviar-se e choca-se contra um poste, que cai sobre a bomba, da qual vaza gasolina, que se alastra até a brasa de uma bituca, que provoca um incêndio, que atinge a motocicleta de Gevardo, a qual explode. Bombeiros. Polícia. De novo, perguntas. Três horas da manhã. Para casa a pé. “Passa o celular, playboy!”. PORRADA! PORRADA! Em casa. Insere a chave na fechadura. Não abre. Força. Não abre. Emperra. Força. Quebra. Tenta escalar o muro e cai. O barulho acorda o vizinho, que chama a polícia, a qual o leva para o hospital. Fratura no braço direito e mais perguntas. Sete horas da manhã, finalmente em casa. Toca a campainha. Esposa abre a porta. Tapa na cara. “E o gás, vagabundo?”.

Um comentário:

  1. Professor Flávio é otimo esse texto acho que se as perguntas não forem muito difícil na prova, eu acerto tudo rsrs.. amei o texto o homem que tem azar Erika Silva

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